"Mastiguem bem e comam sem pressa", essas eram as palavras do meu pai à mesa de jantar quando eu e meus irmãos éramos pequenos. Mas somente na minha adolescência, que decidi mudar minha atitude em relação a alimentação, incluindo o modo de comer. Coloquei em prática a boa mastigação e isso me trouxe muitos benefícios físicos, mentais e espirituais, e finalmente reconheci a importância da mastigação.

Há inúmeros benefícios físicos ligados ao ato de mastigar bem, e o principal deles é a boa digestão. Vitalidade, disposição e energia são conseqüências de uma digestão eficiente. Comer muito rápido, em muita quantidade ou alimentos de difícil digestão sem mastigá-los bem como saladas e carnes por exemplo, traz um tanto de cansaço, preguiça, irritabilidade, raiva, mau-humor e sono. Isso se dá porque o corpo foca sua energia na digestão, deixando as outras funções comprometidas.

A relação entre a mastigação e a digestão pode ser justificada por vários motivos. O primeiro deles é que a boca é um órgão que faz parte do sistema digestivo, sendo sua função muito importante para uma boa digestão. A boca contém dentes para quebrar fisicamente os alimentos e as glândulas salivares que fabricam a saliva para quebrá-los quimicamente. Quando se quebra os alimentos com os dentes em pedacinhos bem pequenos, os alimentos acabam se misturando mais à saliva, facilitando a ação das enzimas sobre o alimento para pré digeri-los. A amilase e lípase duas enzimas presentes na saliva que começam a digerir os carboidratos e gorduras respectivamente, ainda na boca, poupando assim o trabalho do pâncreas de fabricar e transportar enzimas para o intestino. Então mastigar bem um pão com manteiga poupa o pâncreas de trabalhar excessivamente.

Os nutrientes presentes no alimento que é bem mastigado ficam mais fáceis de serem absorvidos pelo intestino. Os vegetais por exemplo contem celulose que é um tipo de carboidrato impossível de ser digerido pelo organismo humano. Mas com uma boa mastigada numa folha de rúcula pode ajudar a quebrar a parede celular (celulose) facilitando a absorção dos nutrientes da rúcula. Essa eficiência na digestão e absorção de vitaminas e minerais presentes na comida, traz saciedade sem precisar comer demais. Pois com pouca comida, de alta qualidade nutricional e bem mastigada, o corpo consegue absorver a quantidade de nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo. Sem aquele desejo de quero mais depois da refeição...

Já os alimentos não bem mastigados, fermentam e apodrecem nas paredes dos intestinos provocando um acumulo de toxinas e gases. E caso a parede do intestino esteja machucada, as toxinas acumuladas dos alimentos mal digeridos podem vazar para a corrente sanguínea afetando o sistema imunológico e engrossando o sangue. 

A saliva quebra os carboidratos complexos como os amidos, em carboidratos simples como a glicose, então se bem mastigado, de 50-100 vezes, o arroz integral pode virar uma pastinha bem docinha ainda na boca! Para aqueles que necessitam inevitavelmente de doces após a refeição, aconselho praticar a boa mastigação. 

Ainda falando em doce, a mastigação ajuda os carboidratos simples a serem absorvidos mais lentamente pelo intestino, não elevando rapidamente o nível de açúcar no sangue e conseqüentemente não forçando a fabricação excessiva de insulina pelo pâncreas. E como a saliva é um meio altamente alcalino, ajuda a transformar um alimento muito ácido, para mais neutro, conservando assim a qualidade do sangue alcalino. 

Focar no ato da mastigação, nos faz comer mais devagar.  Por exemplo, um prato de comida que levaria 10 minutos para ser devorado, passa a levar tranquilamente 20 minutos. O cérebro também leva 18-20 minutos para receber o sinal que estamos satisfeitos. Então fazer uma refeição em menos de vinte minutos é pedir para repetir o prato e quem sabe acabar comendo mais do que necessário, provocando uma má digestão.

Por último, a mastigação prolongada não abre espaço para a gula. É muito difícil comer em excesso quando se mastiga bem. Então, o segredo para grandes banquetes como no natal, páscoa e feriados em geral é mastigar muito bem nas refeições para não cair na tentação da gula. Pois tão importante quanto a qualidade do alimento (nós somos o que comemos), é também a qualidade da sua digestão que é afetada pela mastigação (nós somos como comemos). 

Já o benefício mental que a boa mastigação me trouxe foi a clareza mental. Por mastigar bem, a minha digestão melhorou, comecei a acumular menos e menos toxinas até começar a eliminá-las no corpo com a ajuda de períodos de jejum. Ter a cabeça leve e a mente limpa é um dos melhores presentes da boa mastigação. Pode parecer exotérico demais, mas me sinto mais focada, determinada e alegre por causa da boa mastigação. Fechar os olhos, respirar fundo e mastigar bem, me fixa no presente e me leva a um estado meditativo! A cada bocado bem mastigado me elevo espiritualmente e me aproximo de Deus. Transbordo de alegria! Não custa tentar ser feliz pelo menos 3 vezes ao dia!!!