Bela Gil — vulgo, eu mesma — e memes se tornaram sinônimos durante um período e nunca me incomodei com isso, pelo contrário, acho uma forma divertida de difundir assuntos e conhecimentos sérios e fundamentais para uma mudança profunda na nossa sociedade. É claro que as redes sociais são um canal direto e aberto para se comunicar com todos os tipos de público. Os que se conectam e se identificam com a nossa percepção de mundo, e outros que se conectam pela raiva construída por falta de conhecimento, falta de oportunidade, inveja ou puramente desejo de incomodar o próximo, já que o anonimato traz um certo tipo de proteção.
Hoje resolvi revisitar um capítulo da minha vida no qual fiquei bastante impressionada e me abriu os olhos para entender o tipo de má alimentação que assola o Brasil: estrutural (prometo escrever um coluna só sobre esse assunto), e que a falta de respeito entre as pessoas era muito real. Em 21 de maio de 2015, acordei cedo para preparar o café da manhã e a lancheira da minha filha, Flor. Fiquei contente com a alegria que ela demonstrou ao ver o que eu tinha escolhido pro seu lanche da escola. Tirei uma foto da marmita, coloquei a Flor na condução e saí para gravar o Bela Cozinha, programa de culinária que tenho no canal GNT. Já no carro, no banco de trás, resolvi postar a foto da lancheira composta de banana da terra cozida, batata doce cozida e granola caseira acompanhada de uma garrafinha com água. No final do dia, quando cheguei em casa e olhei as redes sociais, percebi a confusão que a lancheira tinha causado. Tinham seguidores criticando radicalmente o nosso lanche e já outros aplaudindo.
Colocar banana da terra e batata doce na lancheira da minha filha é primeiramente importante porque ela gosta, ela saboreia, ela se conecta. Comida tem que ser gostosa, e vale mais se perguntar porque não gosta de batata doce e banana da terra do que apontar o dedo ao outro que faz essa escolha. Além do paladar, cultura também é importante quando falamos de alimentação. A batata doce e a banana da terra mostram à Flor o verdadeiro sabor da nossa terra, a faz ter como lembrança de infância um sabor natural do Brasil e não de alguma fórmula artificial fabricada em laboratório sem o menor apelo cultural ou afetivo. Também me importo com a saúde. Não considero biscoito recheado, salgadinho de pacotinho e achocolatados como alimentos nutritivos e proveitosos a serem servidos a uma criança na merenda escolar. Vale lembrar que a merenda não é uma festa de aniversário ou uma ocasião especial, é o lanche que nossos filhos comem 5 vezes por semana, é a construção de um hábito.
Por último, mas não menos importante, quando preparamos lanche com produtos mais naturais e caseiros, menos lixo é produzido. Diferente dos pacotinhos individuais de barrinhas, bolachas, salgadinhos e garrafinhas de achocolatados.
Se como pais, políticos e sociedade em geral não formos conscientes e responsáveis pela alimentação das nossas crianças, incentivando o consumo de vegetais, frutas, legumes e cereais, eles crescerão com o paladar já viciado em produtos ultraprocessados, e com isso perdemos a chance de melhorar o hábito alimentar de uma sociedade em construção.
Os valores estão invertidos na nossa sociedade. Muitas pessoas acreditam que saúde é sinônimo de mais hospitais, quando o ideal seria acreditar na promoção de uma alimentação e estilo de vida saudável para que não necessitássemos de mais hospitais. Educação não é só falar "por favor" e "obrigada" e, sim, saber fazer escolhas que afetem o mínimo possível aos outros e ao meio ambiente. Quando todos enxergarmos a alimentação saudável como um investimento e garantia de qualidade de vida, e cozinharmos pensando e respeitando a saúde do corpo, da terra e dos produtores, conseguiremos construir um futuro melhor.